Bioeconomia e Inovação no Brasil e na América Latina

Ingo Plöger
Presidente do Conselho de Empresários da América Latina
Presidente do IPDES – IP Desenvolvimento Empresarial e Institucional​

A humanidade atualmente usa 30% a mais de recursos que não mais poderemos repor.
Se todos quisessem viver uma vida no estilo europeu, necessitaríamos 3 planetas de recursos para viver.
Se quisermos viver no estilo norte americano então necessitaríamos 5 planetas de recursos.
A escassez sempre foi um extraordinário gerador de inovações.

Somente por desenvolvimentos desruptivas poderemos superar a escassez e gerar abundancia.

Este é um dos conceitos entre muitos outros que levou Witherspoon a criar o conceito de OPL One Planet Living. Masdar uma cidade no Oriente Médio esta sendo construída, completamente para uma era pós petróleo. É um dos projetos mais dispendiosos que conhecemos.

Enquanto o Club de Roma nos alertava dos Limites do Crescimento a resposta da inovação é o Crescimento dos Limites.

A Bioeconomia é a parte da economia que baseada na produção de elementos renováveis e sua conversão para os 4Fs Food Feed Fiber Fuel originário da agricultura e da aquicultura, representa uma economia não baseada nos matéria prima de origem fóssil.

A pergunta central é se realmente estamos frente a uma Megatendência, ou se a Bioeconomia é um paliativo enquanto ainda tivermos o recurso dos elementos fósseis. Cenários nos mostram que ainda teremos reservas petrolíferas para vários decênios e não teremos a necessidade de mudanças radicais. Mas as revoluções tecnológicas muitas vezes não se deram somente pela escassez, mas pela mudança de prioridade do habito das pessoas. Se a era da pedra não terminou pela escassez de pedras, será que era do petróleo terminará não pela escassez do mesmo, mas por outras razões?

A qualidade de vida como opção, e aí incluímos a alimentação, a saúde, o bem estar, a longevidade, requer uma forte mudança de hábitos e costumes, o que percebemos nitidamente nas novas preferencias das sociedades.

A Bioeconomia surge como a ideia central da dinâmica das novas opções e gera fatores macro econômicos suportado por politicas regionais e globais; trazendo em si dilemas, ambiguidades, e dificuldades praticas de ordem econômica e social.

Em se tratando de elementos orgânicos, os fatores sol, solo, agua, energia, aliado a tecnologia, informação e gestão tornam a Bioeconomia um dos fatores de maior potencialidade criativa da humanidade.

O Hemisfério Sul, pela sua localização geográfica tem a maior incidência solar, solo agriculturável e agua ainda em abundancia para a geração de fotossíntese e consequentemente biomassa e é geopoliticamente observado, o destino da maior geração de biomassa por hectare global, se souber aliar tecnologias, gestão e informação em processos sustentáveis. Porém pouco mencionado, é a diversidade biológica do continente onde se presume que somente 20% dos elementos bio- diferenciadores são conhecidos.

Assim não é de se estranhar que a América Latina, oferece hoje os melhores indicadores da Bioeconomia mundiais, observando a incidência relativa das energias renováveis em sua matriz energética, os melhores índices de produtividade agrícola no caso de alimentos, fibras e combustíveis. E a crescente inovação advinda de identificações de biodiversidades das florestas tropicais e dos outros biomas latino americanos ainda pouco conhecidos.  

Em um memorável estudo da CEPAL, realizado pelo pesquisador Adrian Rodriguez, que amanhã estará conosco neste evento, apresenta um indicador de competitividade mundial, que seria o índice de incidência de produtos bio econômicos nas exportações das diversas economias. A LAC apresenta um valor médio de 24% de produtos advindos da Bioeconomia. Interessante notar que vários países na América Latina, apresentam índices bem maiores, o que indica que o valor agregado aos produtos básicos, em essências, produtos manufaturados e de alta agregação de inovação, foram determinantes.

Fundamental é a institucionalidade que países e regiões dão ao tema da Bioeconomia. Um dos países de maior destaque é a Alemanha com o seu German Bioeconomy Council, realizador do Global Bioeconomy Summit, reunindo centenas de personalidades internacionais vinculados ao tema. Nas Américas, os EUA publicaram pela Casa Branca o National Bioeconomy Blueprint, destaque quero aqui dar à Argentina que criaram uma Plataforma de Bioeconomia integrando três a quatro ministérios envolvendo várias organizações da sociedade civil. A Costa Rica mantem um programa antigo de Bioeconomia como sendo uma das prioridades de Estado. Na Colombia temos o Foro Nacional de Bioeconomia.

No Brasil temos havido politicas fortes que transformam setores, porém não temos nenhuma coordenação Estado- Sociedade Civil na área da Bioeconomia, como na Argentina, Alemanha Colombia etc. Neste ponto, que quero ressaltar a necessidade do Brasil lançar a sua Plataforma de BioEconomia Nacional, na forma de um Conselho Estratégico Integrado de Bioeconomia.

O Brasil apresenta programas força como o Codigo Florestal único no mundo, ou na área dos Biocombustíveis o InovaBio e a Rota 2030. Vale aqui comentar que os programas regionais de Bioeconomia em muitas de suas versões, não recebem reconhecimento global, por interesses econômicos distintos. Ao Mercosul ate hoje é vedado exportar etanol à União Européia pelas restrições da politica agrícola europeia, embora que aqui se trate de um combustível alternativo.

Ou o debate sobre o land use onde se quer imprimir a prioridade para o alimentar, antes do uso para combustível, fibras ou outras destinações. Lógica esta, somente entendível se a região mantem um mercado fechado para os produtos agrícolas não disponibilizando as opções de exportação e importação para suprir o necessário, neste caso tem-se sim o dilema de land use, caso contrario, com economias abertas e não protecionistas este dilema não ocorre.

Além destes empecilhos comerciais ainda graves, temos que considerar que o maior entrave esta no desenvolvimento tecnológico e de inovações em nossa região. Podemos sim apresentar centenas de bons exemplos de startups e inovações no campo, na indústria e no comercio de um sistema circular, porém a criação de valor agregado é fundamental para a Bioeconomia através da Pesquisa e Desenvolvimento e Cooperação Internacional.

A inovação os desenvolvimentos de modelos desruptivos, melhor se da, em cooperações internacionais. Aqui ressalto e excelente cooperação neste campo entre o Brasil e a Alemanha, e o exemplo mais presente é a fortíssima delegação alemã hoje aqui neste evento, no Green Rio.

O Brasil e Alemanha celebram neste ano os 200 anos dos pesquisadores Spix e Martius que chegaram há dois séculos atrás ao Brasil e percorreram o nosso pais, classificando e identificando fauna e flora que ate hoje são referências nesta area. Foram eles que pela primeira vez identificaram os 5 biomas brasileiros.

Minhas senhoras e senhores.
Estamos somente no inicio deste processo de inovação de buscarmos viver melhor em nosso Planeta.
Porque não temos nem 2, nem 3 e muito menos 5 planetas para viver bem. Portanto precisamos ser desruptivos e corajosos para romper a maior de todas as fronteiras, que esta em nós mesmos, o de estar aberto as inovações e às mudanças, mesmo que isto signifique que precisemos de mudar de habito hoje!

Obrigado pela oportunidade e estou ansioso por um bom dialogo e debate.


 

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